Truques com um furinho

 

O truque com a caixa de sapatos

 

         Possivelmente você já deve ter ouvido falar sobre como conseguir a projeção de uma imagem no fundo de uma caixa de sapatos por meio de um pequeno orifício feito no lado oposto. Mas, mesmo assim, vai aqui a receita.

         Pegue uma caixa de sapatos e faça um pequeno furo em uma das laterais menores. Você pode usar um lápis para fazer isso e nem precisa se preocupar que o furo seja muito redondo....

Feito o furo, coloque um objeto luminoso, como uma lâmpada acesa, um abajur ou posicione a caixa com o furo voltado para uma janela bem clara, por exemplo, a cerca de um ou dois metros distante da caixa. Você vai obter a imagem do objeto projetada na parede interna do lado oposto ao do furo. A figura abaixo mostra isso. Claro que a imagem será formada dentro da caixa e para vê-la você deve fazer a parte traseira da caixa com papel translúcido, como papel vegetal, ou olhar por um buraquinho estrategicamente feito sobre a caixa.

 

 

         Para conseguir sucesso nesta experiência, faça-a em um local sem outras fontes de luz além daquela que você quer projetar.

 

Como isso funciona?

 

         Imagine que o furinho seja bem pequeno. Dessa forma, cada ponto da imagem irá iluminar apenas um ponto no fundo da caixa. Assim você verá exatamente a imagem do objeto. É isso que a figura abaixo tenta mostrar. Ela é uma figura esquemática, como se a caixa de sapatos fosse vista de lado. O furinho está no ponto em que as linhas se cruzam.

 

 

 

Se o furo for muito grande, cada ponto do objeto irá iluminar uma região muito grande do fundo da caixa e a imagem será “borrada”. Se o furo for muito pequeno, muito pouca luz entrará na caixa e ficará difícil ver a imagem projetada. Faça então essa experiência: faça o furo bem pequeno e observe a imagem; depois, aumente-o. Quanto maior o furo, mais clara a imagem, mas também mais “fora de foco”.

Isso tudo serve para mais brincadeiras e para coisas sérias também. Esse era o método usado bem antigamente nas máquinas fotográficas. No lugar de ter uma lente na frente, que serve para projetar a imagem que se quer fotografar sobre o filme, usava-se o truque do furinho. Mas o truque do furinho serve para mais coisas...

 

 

Orifícios no lugar de óculos

 

No nosso olho há uma pequena lente, o cristalino, que serve para projetar a imagem dos objetos que olhamos no fundo do olho, onde existe a retina (a imagem é formada na retina e enviada para o cérebro por meio do nervo óptico). Entretanto, nas pessoas míopes, essa lente natural não consegue projetar nitidamente a imagem na retina, a menos que o objeto esteja bem perto do nariz. (Míopes, sem o auxílio de óculos, só enxergam bem de perto.) Nessas pessoas, a imagem de um objeto distante seria projetada nitidamente só se a retina estivesse mais na frente, mais perto do cristalino. Para corrigir esse defeito, os míopes usam uma lente divergente.

As pessoas que sofrem de hipermetropia têm o problema inverso: a imagem seria projetada nitidamente se a retina estivesse mais para trás. Essas pessoas só enxergam bem objetos que estão longe (é comum vê-las lendo jornal com o braço esticado, para colocá-lo bem longe do nariz). Elas devem usar então uma lente convergente para enxergar bem os objetos que estão próximos.

Mas o truque do furinho pode ajudar essas pessoas a verem direito sem o uso de óculos. Pegue um pedaço de papel grosso ou de cartolina, ou de qualquer outro material opaco que você ache adequado, e faça um pequeno furo com um palito de dentes. Peça para que uma pessoa míope ou que tenha hipermetropia olhe alguma coisa pelo buraquinho (fale para ela colocar o papel com o furinho bem perto do olho, quase encostado) sem usar os óculos. Ela deverá ver as coisas mais nítidas. E quanto menor o furo, mais nítida será a visão da pessoa.

Então, por que as pessoas não usam esse truque no lugar de óculos? Ou, por que o processo de seleção natural não nos fez a todos com uma pupila bem pequena, como se fosse apenas “um furinho”, não precisando assim do cristalino e evitando que existissem míopes e hipermétropes? Talvez a resposta seja porque nós perderíamos a visão lateral e também dependeríamos de muita luz para enxergar, pois um pequeno furinho deixaria entrar muito pouca luz no olho.

 

 

Por que vemos melhor de dia que de noite?

 

Claro que vemos melhor de dia do que de noite porque de dia é claro e de noite é escuro.... Mas não é exatamente isso que se quer perguntar. A pergunta certa seria: `há algum efeito além da maior luminosidade que possa facilitar a visão em um ambiente bem iluminado? De novo a resposta vem do truque do furinho. Quando o ambiente está bem iluminado nossas pupilas se contraem (verifique isso olhando em um espelho, primeiro com o ambiente bem claro e depois com pouca luz; observe que o tamanho de sua pupila varia com a iluminação) e o efeito do furinho da caixa de sapatos ajuda a formar uma imagem mais nítida do objeto.

 

 

Mais um truque com um o furinho

 

Além do truque com a caixa de sapatos, você pode projetar a imagem de um objeto luminoso sobre qualquer outro anteparo - uma parede, uma folha de papel, etc. Para isso, pegue um pedaço grande de papelão ou de algum outro material igualmente resistente e que não deixe passar a luz, na forma de um quadrado de cerca de 30 cm de lado, e faça um furo pequeno no meio com um lápis. Esse furo pode ser do tamanho do lápis, não precisa ser muito pequeno. Com esse papelão você pode, por exemplo, projetar a imagem de uma luminária ou uma lâmpada de teto sobre uma folha de papel branco colocada sobre uma mesa: basta colocar o papelão a cerca de um ou dois palmos do papel e bem embaixo da lâmpada. O papelão deve ser relativamente grande para que ele faça uma sombra que evite que a folha branca sobre a qual a imagem será projetada fique muito iluminada por outras fontes de luz além daquela que passou pelo furinho. Lembre de apagar as outras lâmpadas acesas e faça a experiência de noite ou em uma sala com as janelas fechadas.

Você pode usar esse mesmo papelão furado para projetar a imagem do sol. Teste usando buracos maiores ou menores e afastando ou aproximando o papelão do anteparo no qual a imagem do Sol será projetada. Você vai conseguir belas imagens do sol.

 

 

E se o buraquinho estiver muito perto do anteparo?

 

Pegue o mesmo papelão, mas agora faça um furo quadrado de um centímetro de lado. (Você pode aproveitar o mesmo papelão: tampe o outro furo colando alguma coisa em cima e faça o novo furo ao lado.) Verifique que você pode continuar projetando a imagem de uma luminária no teto sobre uma folha de papel apoiada numa mesa mesmo com o furo quadrado.

Agora, coloque o papelão bem próximo da mesa, três a quatro centímetros mais ou menos. Espie por baixo do papelão e você verá uma mancha luminosa com a forma do buraco e não mais a imagem da lâmpada! Você pode explicar isso?

 

Outros truques com um furo

 

Muitas vezes quando o sol bate contra uma janela fechada, mas alguma luz consegue passar por uma fresta e iluminar uma parede, nós vemos na parede uma imagem redonda: é a própria imagem do sol projetada, como você fez com o papelão. Mas se a fresta estiver muito próxima do anteparo onde a luz incide, a forma será parecida com a da fresta, e não com a do sol.

Você pode perceber esse efeito também em um dia ensolarado olhando as manchas luminosas que se formam no chão embaixo de uma árvore frondosa. Se a folhagem da árvore estiver relativamente distante do solo, essas manchas são arredondadas, pois são as imagens do Sol projetadas no chão por pequenos furos formados pelas folhas da árvore. Se as folhas estiverem perto do solo, você não verá mais as imagens do Sol, mas sim, das folhas e das frestas entre elas.

Parece que os pintores usaram o truque do buraquinho em uma época da história, construindo salas escuras com um pequeno orifício em uma das paredes. A pessoa a ser retratada ficava do lado de fora da sala e, quando muito bem iluminada pelo Sol, sua imagem era formada dentro da sala, na parede oposta àquela onde está o orifício. Ficava então mais fácil fazer uma pintura fiel à pessoa retratada. Pelo menos essa é a hipótese do artista David Hockney, que tem um livro polêmico sobre o assunto. Entre as evidências que ele usa para argumentar a favor de sua hipótese é a presença de uma grande quantidade de canhotos em pessoas retratadas por alguns pintores em algumas épocas... pois as imagens são invertidas quando projetadas por orifícios e destros parecem canhotos.